sexta-feira, 7 de março de 2008

Língua Gestual Portuguesa - Para todos! Parte Teórica

Objectivos

- Ter conhecimentos em Língua Gestual Portuguesa de modo a facilitar, no trabalho docente, uma melhor relação com crianças e jovens surdos e a permitir uma maior aquisição de conceitos e desenvolvimento da Língua Portuguesa oral e escrita.

- Compreender e desenvolver a LGP uma vez que é fundamental para estabelecer a comunicação com crianças e jovens nas escolas do ensino regular (ou noutros lugares).

- Conhecer e contextualizar o uso da Língua Gestual Portuguesa no seio da Comunidade Surda e da Comunidade Ouvinte.

- Entender o mundo das pessoas surdas, as suas capacidades e necessidades próprias e o papel da Língua Gestual no desenvolvimento sócio-cognitivo de toda a criança e jovens surdo.

SER SURDO........

SER SURDO não impede que se ria mais ou menos, que se goste de estar em casa ou de passear ao ar livre, que se aprecie ou não se aprecie um bom petisco, que se fume ou não se fume, que se beba ou não se beba um copo de bom vinho, que se viva mais ou menos intensamente o amor...
Amar o sol, o ar livre, a natureza, a terra e o mar, o fogo e a água, as plantas e as flores, os animais, as pedras, a luz, a cor, o som (sim, porque não?), o movimento, a alegria, o riso, o prazer, é da própria Natureza do Ser Humano, Ser indissociável do planeta onde nasceu e onde vive. Próprio também do SURDO que, por ser Surdo, não deixa de ser humano, antes mais intensa e profundamente o é.

Cinco princípios básicos da LGP

1) A LGP é uma língua ancestral, vernácula, dos surdos portugueses. Possui um léxico e uma estrutura gramatical próprios, ambos de grande riqueza e complexidade. Há vários dialectos regionais mas o essencial da LGP mantém-se em todos eles.

2) Os Surdos que utilizam a LGP como instrumento principal da comunicação e socialização, constituem uma minoria linguística autóctone. E como a Língua é a principal forma duma cultura, também constituem uma minoria cultural.

3) Os Intérpretes (ouvintes) devem ter um conhecimento aprofundado das suas línguas de trabalho - LGP e Português, embora seja cada vez mais necessário terem conhecimentos do Inglês oral- assim como alguma informação acerca dos problemas e particularidades da Comunidade Surda Portuguesa.

4) Os Formadores de LGP (surdos) devem ter bons conhecimentos de Português, sua segunda língua, dominarem apuradamente a LGP, sua primeira Língua e bons conhecimentos de várias naturezas (científica, didáctica e técnica) nas áreas directamente ligadas à aquisição, transmissão, usos discursivos e ensino.

5) Os Surdos Portugueses têm pleno direito a serviços de intérpretes de nível idêntico aos que são assegurados a pessoas ouvintes em relação a línguas estrangeiras.


Questões mais frequentes

O que é a Língua Gestual Portuguesa?

A Língua Gestual Portuguesa (LGP) é a língua utilizada pelos surdos portugueses. É uma língua visual que se baseia nos movimentos, configuração e orientação das mãos e na expressão facial das pessoas que comunicam em LGP. A utilização das duas línguas (a oral e gestual) ao mesmo tempo é impossível, porque elas têm gramáticas diferentes.

Quais são os cinco parâmetros fundamentais da LGP?

* Movimento (a direito, para cima, para baixo, circular)
* Localização (Lugar no peito, no ombro, na face)
* Orientação (sentido: norte, sul, este, oeste)
* Configuração (desenho da mão)
* Expressão facial

Diz-se "Língua Gestual" ou "Linguagem Gestual"?

É muito comum dizer-se Linguagem gestual, em vez de Língua Gestual. Com efeito, nos media é muito frequente vermos "informação em Linguagem Gestual". Isto é erro. A LGP, como todas as Línguas, tem gramática própria, e um dicionário próprio, intitulado de Gestuário, em que os significados aparecem sob a forma de gestos. Pelo facto de ter gramática e dicionário (neste caso um Gestuário), a forma de comunicar dos surdos portugueses chama-se Língua Gestual portuguesa (LGP) e não linguagem gestual, uma vez que a linguagem não tem regras fixas, nem dicionário. A Língua Gestual é uma língua rica e em constante desenvolvimento, que permite aos surdos estarem sempre actualizados e em pleno contacto com o mundo que os rodeia.

Diz-se "Surdo" ou "Surdo-mudo"?

E do senso-comum chamar-se "surdo-mudo" a um surdo. Isso é um erro. Um surdo fala. mas de uma forma diferente da dos ouvintes, porque fala com as mãos e com a expressão facial (para além da leitura dos lábios), que revela logo uma parte substancial do que se pretende comunicar, não sob a forma oral a que os ouvintes estão habituados.

O surdo não fala porque não ouve?

Costuma-se dizer que o surdo não fala porque não ouve. Na verdade, muitos surdos vocalizam sons, apesar de não os ouvirem. Um surdo com muito treino e uma terapêutica eficaz pode desenvolver vocalizações. Além disso, as pessoas que nasceram surdas são diferentes das ficaram surdas depois de terem começado a ouvir, para o surdo de nascença, a sua Língua materna é a língua gestual portuguesa, que tem uma gramática própria e o português (oral) é uma segunda língua, pois para uma criança surda é muito mais fácil aprender primeiro a língua gestual portuguesa; os ouvintes que por alguma razão fivaram surdos têm como língua materna o português oral e podem aprender a língua gestual portuguesa, além do mais, conseguem falar, porque aprenderam o português oral quando ouviam.

A Língua Gestual é universal?

Não. Cada país, por vezes cada região, tem uma língua própria. A língua é o espelho da sua Cultura, como tal, elas diferem entre si. Como os surdos portugueses têm uma cultura própria, a língua gestual portuguesa é diferente das demais línguas gestuais. Por exemplo: para nós, portugueses, a palavra passado é descrita com a mão direita (esquerda no caso de um canhoto) a passar por cima do ombro direito (esquerdo no caso de um canhoto) com a palma da mão virada para trás, num movimento da frente para trás, o que significa o que passou fica para trás. Isto parece lógico, pelo menos para nós, portugueses. Mas para um indiano, a palavra passado é feita da mesma maneira que nós portugueses, mas com a diferença de que o movimento da mão é feito de trás, para a frente, exactamente ao contrário da LGP, que significa que o passado é o que passou, mas nós conhecemos, e por isso está à nossa frente.o futuro, como ninguém sabe como é, está nas nossas costas, não o vemos.

É possível exprimir um pensamento totalmente abstracto na Língua Gestual?

Sim. Do mesmo modo que nas línguas orais.

Como pensa uma Pessoa Surda se não utiliza as palavras?

O pensamento desenvolve-se à base de imagens, de sensações, duma impressão para se construir o pensamento...e das palavras escritas, visto que estas lhes são próximas.

É difícil aprender a Língua Gestual?

SIM...e...NÃO. as Pessoas Ouvintes não estão habituadas a exprimirem-se numa base totalmente visual, nem a utilizarem as mãos e o corpo para tal. No entanto, o nível de dificuldade depende igualmente das capacidades de cada uma.

Os Surdos "soletram" todas as palavras para comunicar?

Não. O Surdos utilizam os gestos ue são as imagens simbólicas dos conceitos exprimidos. É o conjunto dos parâmetros do gesto assim como a expressão da face e o movimento do corpo que criam uma imagem precisa da ideia exprimida.

Que diferença existe entre a Língua Gestual Portuguesa e o Português Gestual?

A Língua Gestual Portuguesa é uma verdadeira Língua com um léxico e uma gramática próprios. É a comunicação espontânea das Pessoas Surdas e, através do Mundo, cada Língua Gestual é portadora da Cultura das Pessoas que a utilizam.
O Português Gestual é um método deturpado de comunicação que utiliza o vocabulário da Língua Gestual Portuguesa numa estrutura gramatical e numa ordem pertencente à Língua Oral Portuguesa. Serve unicamente para mostrar a ordem dos gestos numa frase em Português, mas não transmite de maneira válida o pensamento de alguém, visto não respeitar as regras gramaticais da Língua Gestual Portuguesa e a necessidade duma Lógica visual.

Um surdo que usa prótese auditiva é ouvinte?

Não. A prótese não faz milagres. A compreensão da língua exige uma larga e difícil reeducação. A prótese ajudará, reforçando a apreensão de certos sons, certas palavras, mas geralmente é só o complemento essencial da leitura labial.

"Intérprete" e "Formador" de LGP significam a mesma coisa?

Não. O Intérprete é ouvinte e faz tradução em LGP ou tradução oralmente (visualizando os gestos). O Formador é Surdo e ensina LGP.

Quais as funções do Intérprete e do Formador?

As funções do intérprete são:

* O Intérprete de LGP funciona como um elo de ligação entre as pessoas surdas e as ouvintes, de modo a que estas possam comunicar tudo aquilo que desejam.

* Este profissional transpõe um discurso emitido oralmente para Língua Gestual e vice-versa, assegurando e comunicação entre as pessoas surdas e ouvintes.

* O Intérprete permite a integração das pessoas surdas na sociedade, contribuindo para que estas tenham acesso às diferentes informações que as rodeiam.

* A lei n.º89/99, de 5 de Junho define as condições de acesso e exercício da actividade de intérprete de LGP.

* É fundamental para o intérprete de LGP o contacto com a cultura e comunidade surdas, para que assim possa aperfeiçoar os seus conhecimentos.

* O intérprete contribui para que "o surdo ouça com os olhos e fale com as mãos". (Jerónimo Cardan, séc. XVI)

* A intérprete de LGP contribui assim, para a integração/inclusão dos alunos surdos - O intérprete de LGP assume um papel de grande importância no contexto educativo.

As funções do Formador de LGP são:

* Desenvolver formação sistemática aos profissionais, pais e familiares que vivem e trabalham directamente com crianças ou jovens surdos;
* Proporcionar e/ou reforçar nos alunos surdos competências no domínio da LGP;
* Divulgação da Língua Gestual Portuguesa;
* Aulas de formação.

Cuidados a ter na comunicação com um surdo

* Falar de frente e face à luz; (contra luz é impossível de se fazer compreender)
* Distância média ideal: 1,50m, ao mesmo nível da criança surda;
* Não ser estático, pelo contrário ser o mais expressivo possível;
* Articular bem os gestos, sem exagerar os movimentos articulatórios;
* Falar claro e devagar;
* Dizer sempre qual é o tema de conversa; (assim torna tudo muito mais fácil)
* Usar frases simples e curtas;
* Utilizar toda a espécie de apoios à linguagem: imagens, esquemas, resumos, dramatizações, quadro negro, caderno, retroprojector, slides, computadores, etc;
* Certificar-se que o surdo/a compreendeu a mensagem;
* Falar só quando o receptor estiver a olhar para o emissor;
* Repetir sempre que necessário, utilizando várias estratégias, até o receptor compreender a mensagem;
* Quando falar com um surdo, evite tapar a boca com a mão, com o papel ou livro, estar a mastigar, fumar, etc;
* Não falar alto;
* Não utilizar palavras soltas;
* Evitar deslocar-se constantemente, quando falar;
* Não falar de costas quando escreve no quadro.

Cultura dos Surdos

Como chamar a atenção de um surdo?
à Tocar no ombro ou no joelho;
à Bater com o pé no chão;
à Bater com as mãos na mesa;
à Acender e apagar a luz;
à Acenar com a mão.

Os Surdos.......

* Falam sempre do passado
* Contam anedotas
* Lêem os lábios
* Fazem muito barulho em casa
* São curiosos
* São desconfiados, porque não ouvem
* Batem palmas no ar, isto é abanam as mãos
* Apontam
* Estabelecem contacto visual
* Têm expressão facial e corporal
* Falam com gestos (LGP)
* Acendem a luz alternadamente
* Comunicam em frente das pessoas
* Convivem durante muito tempo (por exemplo, 2 horas num café)
* Escrevem ao contrário (glosa)
* Têm a campainha (luz)

Parte Prática

1) Abecedário
2) Números
3) Configurações
4) Calendário
- Dias da Semana
- Meses do ano
- Estações do ano
5) Cores
6) Família
7) Tempo (horas)
8) Estado civil
9) Relações Pessoais
10) Pronomes
- Interrogativos
11) Verbos
12) Meio de transporte
13) Instituições
14) Meteorologia/Clima
15) Sentimentos

(Autores: Sofia Duarte Afonso - Formadora de LGP)

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